PESADELO NO METRÔ


 

ALERTA DE POSSÍVEL GATILHO: Este texto fala sobre assuntos que podem ser perturbadores para algumas pessoas.


Este não é um texto animador, mas o mundo precisa saber como o diabetes tipo 1 pode resultar rapidamente em uma situação grave. Não existe uma maneira fácil de escrever sobre isto. Fiquei traumatizada e só posso rezar para que esta situação não se repita nunca mais. Por favor, entendam que não é possível fazer julgamentos ou falar “eu deveria ter feito” ou “eu poderia ter feito” na hora, porque estar passando pela situação é outra coisa, e eu não desejo isso para ninguém. É importante saber também que uma pessoa que vive com DM1 pode passar a vida inteira sem ter uma experiência como esta.

NO ENTANTO, NOSSO DIA FOI ASSIM:

Era o dia seguinte ao Dia Mundial do Diabetes e ainda estávamos em Nova York, logo depois de ter tido a experiência única de tocar o sino da NASDAQ com a Dexcom. Meu marido tinha precisado ir a um evento de trabalho em Nova Jersey, então ele não estava presente. Ficamos, então, meus três filhos, eu e uma das nossas famílias tipo 1 favoritas. Estava chovendo, então decidimos almoçar no Carmine’s e depois pegar o metrô para ir até um museu.

jen-hope-and-grace-3

No almoço, Parker estava com 96 mg/dL, um valor perfeito. Ele tomou uma limonada (que eu não contei como carboidrato), comeu um pedaço e meio de pão e pediu um prato de macarronada com frango. Eu subestimei os carboidratos de Parker, considerando que fossem 35. Estava mais preocupada com Madison, porque ela estava comendo muitos carboidratos e eu fiquei com medo de que a glicemia dela subisse demais.

Andamos até a Times Square e entramos no metrô. Devido à localização, a estação estava lotada. As crianças (quatro que viviam com DM1 mais uma irmã que apoiava muito) passaram por baixo da “máquina de tíquetes que girava”. Já tínhamos um cartão de metrô carregado. Janet (minha melhor amiga e mãe das outras crianças que estavam conosco) passou logo depois das crianças. Eu fui logo em seguida e o marido dela, Damon, era o último. Como só havia sobrado 0,92 dólares no cartão, ele não conseguiu passar, então voltou para recarregá-lo. Janet, as crianças e eu ficamos esperando ao lado da escada rolante.

As crianças começaram a ficar inquietas. Como Madison tinha comido muito no almoço, eu estava preocupada com a possibilidade da glicemia dela ficar alta demais. Dei uma olhada no meu relógio e vi que os níveis dela estavam bons, mas Parker estava em 91, com uma setinha diagonal apontando para baixo. Naquela hora, ele estava brincando, descendo alguns degraus da escada e depois subindo novamente conforme ela descia. Eu o segurei, chamei-o de lado e falei para ele esperar. Abri a bolsa e peguei os tabletes dele. Quando lhe entreguei dois, meu relógio vibrou e mudou para 51, com duas setas apontando para baixo (nessa hora, soltei um palavrão). Comecei a procurar um suco. Enquanto isso, Janet me deu mais três tabletes, totalizando 20 carboidratos.

Foi aí que começou (eu já tinha dado dois sucos para as crianças mais cedo e não tinha certeza se havia mais; depois, encontrei um terceiro na bolsa). Estava na hora de ir e tudo aconteceu muito rápido. Descemos a escada em fila: Damon na frente com os dois menores, Addison, Madison e então vinham Janet e Parker, de braços dados. Ele tinha comido os 20 carboidratos e disse que se sentia bem, só quieto. Eu vinha por último, tentando dar conta de tudo. Ainda segurando a bolsa, fui separando o kit de medição enquanto descíamos, sabendo que precisava verificar a glicemia de Parker assim que saíssemos da escada. Eu abri o kit e avisei a Damon, que estava começando a se dirigir ao trem, para parar, porque eu precisava medir. Ele perguntou: “Agora?”; “Sim, agora”. Janet disse: “Estou com ele. Ele está bem”. Eu tinha parado e aberto o kit e, quando fui prepará-lo, olhei para cima e soube na mesma hora o que iria acontecer.

jen-hope-and-grace-4

Parker deu um passo com o pé esquerdo e outro com o direito. O pé direito, no entanto, não foi para a frente, mas virou. Então, aconteceu. Parecia que tudo estava em câmera lenta. Os joelhos dele cederam. Seus olhos saltaram. Sua cabeça foi jogada abruptamente para trás. Os dois braços se contorceram. Suas mãozinhas fecharam-se. As costas ficaram arqueadas. Ele ficou rígido. O corpo todo dele tremia rápido, com violência, incontrolavelmente. Eu comecei a gritar.

Apesar de lembrar daquele momento claramente, a ordem do que se seguiu é mais obscura. Eu só me lembro de gritar. Sei que Janet estava com ele nos braços, então ele não iria cair. Eu olhei para as crianças menores. Gritei o nome de Damon. Eu tremia incontrolavelmente e não conseguia pegar o glucagon no kit de medição (que eu ainda estava segurando). Lembro de entregá-lo a Damon ao mesmo tempo em que gritava: “Não! Não! Não!”. Então, pegamos o infame e salvador kit vermelho de glucagon. Eu só entreguei a ele. Agora, Parker estava no chão, convulsionando nos braços de Janet. Damon preparou o glucagon e o resto do kit estava no chão perto de mim. Eu continuava a gritar. Policiais começaram a aparecer. Um círculo de pessoas se formou, observando, e eu lembro de ter pedido aos policiais para que tomassem conta das outras crianças. Avisei que estavam conosco e pedi para que eles os protegessem.

Meu coração estava despedaçado. Lágrimas corriam pelo meu rosto. Eu era um disco quebrado repetindo as mesmas palavras. “Não, não, não! Meu bebê, meu bebê, meu bebê! Deus, não! Meu bebê. Damon! Janet! Meu bebê!”

Ele ainda estava convulsionando. Eu abaixei a calça dele pelo lado esquerdo. Damon aplicou o glucagon. Não fez efeito imediatamente. Ele continuou a tremer. Peguei um tubo de cobertura de bolo e espirrei em sua boca, estava desesperada. Meu único filho não estava acordando (pensando agora, eu provavelmente não deveria ter feito isso, pois ele poderia ter engasgado. Mas eu não estava pensando nisso. Estava pensando que ele já tinha recebido glucagon, mas ainda estava tendo convulsões e precisava de mais.). Naquele momento, os tremores diminuíram. Eu parei a bomba dele e vi que ele tinha 3,3 unidades ativas. Então, fiz a primeira de várias medições de glicemia. Depois de 20 carboidratos em tabletes, glucagon e mais 15 da cobertura, Parker estava com 46 mg/dL. Lembro-me vagamente do policial parado ao meu lado me dizendo que havia um médico ali e se eu gostaria da ajuda dele. “Sim, por favor. Verifique o pulso dele”. Eu me virei e vi o homem próximo à cabeça de Parker, verificando o pulso e a respiração. Naquela hora, pensei: “meu filho está em coma”.

Pedi para o médico ficar ali até a ambulância chegar. Não podíamos fazer mais nada além de esperar. Pareceu demorar anos. Agora, estávamos rodeados de policiais. Eu segurei as mãos dele. Chorei. Deitei sobre ele, soluçando. Janet me abraçou. Esperamos, esperamos e esperamos. Ergui a pálpebra esquerda dele; seu olho estava virado e muito vermelho. Eu nunca tinha visto nada assim. A ambulância chegou 17 minutos depois.

jen-hope-and-grace-2

Eles chamaram-no pelo nome, bateram de leve em seu rosto e colocaram algo fedido abaixo de seu nariz. Ele abriu os olhos e olhou para eles. Como um cervo olhando para os faróis de um carro. Com medo em seus olhos vermelhos. Um olhar de confusão. Eu finalmente consegui respirar. Eles começaram a tratá-lo e eu continuei a verificar a glicemia. Não estava subindo. Eles quiseram nos dar mais privacidade, então falaram para irmos até a ambulância. Segurei as mãos dos médicos e agradeci com lágrimas nos olhos. Eles não conseguiram levar a maca pela escada rolante, então colocaram-no em uma cadeira de rodas. Eu disse para Janet que não conseguia vê-lo assim e pedi para que ela não saísse do lado dele. Andei um pouco atrás, com alguns policiais e minhas duas filhas. Chegamos ao topo da escada, abracei os filhos de Janet e depois, individualmente, as minhas meninas, perguntando se elas estavam bem. Pedi para os policiais ficarem com elas enquanto eu entrava na ambulância. Parker foi carregado até a maca e colocado nela. Estava frio. Comecei a me sentir culpada.

Ele parecia péssimo. Não conseguia nem imaginar como ele devia estar se sentindo. Ficamos 45 minutos na ambulância medindo a glicemia e os sinais vitais e tentando decidir o que fazer. Não foi fácil. Os níveis de açúcar dele subiam e caíam drasticamente (de 100 para 56 mg/dL, por exemplo). Ele recebeu três frascos de dextrose direto na veia e também começaram uma bolsa de D5 (eventualmente usaram duas).

Ele começou a vomitar por causa do glucagon, então a glicemia continuou a pular de um extremo ao outro. Depois de 45 minutos, concluímos que ele precisaria ser levado ao hospital Cornell. Janet e Damon ficaram com as minhas filhas e o kit de suprimentos de diabetes de Madison. Assim que tivéssemos um plano e nos certificássemos de que Parker ficaria bem, Janet avisaria o meu marido (eu não conseguia imaginar como seria para ele; ele teria que voltar correndo, o mais rapidamente possível, e ainda levaria horas).

Foi uma longa viagem de ambulância. Parker vomitou violentamente cinco vezes. Eu estava sentada presa em uma cadeira com cinto e sem poder fazer nada enquanto ele passava mal.

Chegando ao hospital, conseguimos um quarto na mesma hora e ele estava com apenas 77 mg/dL, mesmo depois de toda aquela medicação. Cuidaram dele, deram soro e Zofran líquido e eu continuei a verificar a sua glicemia sem parar. A parte da minha família que morava na cidade me apoiou instantaneamente, assim como uma alma caridosa da Dexcom, que foi para lá por conta própria. Houve muita confusão enquanto meu marido tentava chegar e pensávamos em como buscar as minhas filhas, já que Damon e Janet tinham que pegar o avião. Mas deu tudo certo. Foi duro ver os círculos escuros no rosto dele e saber como ele devia estar se sentindo péssimo.

Minha família e a Dexcom tomaram conta de nós. Nove horas depois, fomos liberados, e um táxi aguardava para levar-nos de volta ao hotel. Aumentamos nossa viagem em um dia. Parker pôde, então, descansar um pouco. Eu me recusei a deixar que o DM1 acabasse com essa viagem incrível. Não iríamos terminá-la dessa forma. Nós éramos guerreiros e essas crianças sabiam lutar.

Fiquei brava por ter soltado palavrões três vezes enquanto estava ajoelhada no metrô, completamente apavorada. Eu estava olhando fixamente para o meu filho e só conseguia escutar o policial ao meu lado; todos os outros sons chegavam abafados. Lembro-me claramente de rezar e pedir a Deus que o protegesse e garantisse que ele ficaria bem. Também me lembro de, na ambulância, me perguntar onde estaria Deus naquela hora e como eu poderia louvá-lo no pior momento da minha vida. Percebi na mesma hora. Não precisei procurar as respostas. 1) A estação de metrô que escolhemos ficava do lado da delegacia. Reforços chegaram em segundos. 2) Como era época de eleição, havia mais policiais trabalhando. Acredito que os meus gritos chamaram a atenção deles, que chegaram imediatamente. Se estivéssemos na rua, não teríamos atraído tanta atenção. 3) Por não haver créditos suficientes no cartão, Damon precisou recarregá-lo, o que nos fez esperar. Se não fosse por isso, certamente estaríamos esmagados DENTRO de um trem em movimento. 4) Os policiais fizeram um círculo em torno das outras crianças, mantendo-as a salvo. 5) Havia outra família DM1 ao meu lado. Eles tomaram a iniciativa de me ajudar como e da forma que pudessem. Isso fez com que eu conseguisse me assegurar que as minhas duas filhas estavam bem (porque eu estava muito preocupada com a segurança e o bem-estar emocional delas) e pudesse assumir o papel de “Mamãe”. Como Janet estava segurando Parker, ele não caiu e nem se machucou. Ela foi muito carinhosa e gentil com ele. 6) Parker não se lembra de nada. A última coisa da qual ele se lembra é de ter almoçado. Isso por si só já é uma benção.

jen-poston

Agradeço aos policiais de Nova York, à família Gidner, à Dexcom (especialmente a Traci), aos meus familiares Murphy em Nova York, a Ruthie, ao meu marido, que passou por essa experiência de outra perspectiva, e a Deus, por me dar esperança e luz na pior hora da minha vida.

Isso aconteceu de verdade. Isso é horrível. Isso pode acontecer. Isso aconteceu. Esta história é a nossa história, e eu a compartilho para conscientizar, educar e ajudar de alguma forma. Precisamos de uma cura!

WRITTEN BY Jen Poston, POSTED 01/06/20, UPDATED 03/15/21

Jen mora em San Diego, Califórnia, é incrivelmente abençoada mãe de três filhos e tem um marido incrível. Ter dois filhos com diabetes tipo 1 a levou a ser uma defensora e uma voz para compartilhar sua história para educar o mundo. Isso nunca vai definir quem eles são, mas é uma doença silenciosa que deve ser curada. Até que haja uma cura, ela estará lá para apoiar, educar, arrecadar fundos e dar seu amor à sua comunidade de diabetes tipo 1.