PERDEMOS WILL HAUVER


 

 

Esta é a história de um garoto incrível de 22 anos. Esse jovem rapaz estava começando a vida e ajudaria a mudar o mundo por meio de sua bondade, seu pragmatismo e sua criatividade. Esse caminho se encerrou no dia 2 de fevereiro de 2015.

Esta é uma história real sobre Will, diabetes tipo 1 e gripe. Vou começar, no entanto, falando sobre Will e o DM1. Ele era um garoto de 15 anos ativo, começando o ensino médio, quando foi diagnosticado com DM1. Era o tipo de adolescente que não parava, e cada dia era uma aventura nova.

Em um dia de outubro, ele não pôde ir para a escola porque estava doente. Sua visão estava embaçada e ele passou a beber muita água, se sentir enjoado e ter vontade de tomar sorvete e milkshake. Eu conversei com uma médica, falando sobre esses sintomas, e ela deu a resposta habitual: um vírus.

Ao longo do dia, no entanto, ele só piorava. Fui buscar o irmão mais novo dele na escola e, enquanto eu dirigia, percebi que Will estava com todos os sintomas de diabetes que eu tinha acabado de ver na revista People (Nick Jonas havia sido diagnosticado no mês anterior). Quando cheguei em casa, li a lista de sintomas para Will, que confirmou que estava passando por todos eles. Liguei para a casa do pediatra dele, que, ao saber que ele tinha perdido peso, me aconselhou a levá-lo ao hospital. A glicemia dele estava perto de 800. E assim começou a nossa jornada no mundo do diabetes tipo 1.

Will lidou com a chegada das injeções, da insulina, dos furos no dedo, dos lanches e da contagem de carboidratos de uma forma leve, equilibrada e incrivelmente madura. Não fizemos nenhuma restrição à forma em que ele vivia, apenas adicionamos o diabetes (e ele não seguia nenhuma rotina). Ele viajava com a escola para andar de esqui, praticar lacrosse e competir em torneios de squash em outros estados. Ele ia para encontros da igreja que duravam uma semana do outro lado do país, passava fins de semana com os amigos em casas perto de lagos, dormia na casa deles. Dávamos um jeito para que ele fizesse tudo o que quisesse.

Perto do final de seu último ano no ensino médio, Will passou por alguns episódios graves de hipoglicemia. Nós trocamos o endocrinologista pediátrico por um endócrino que atendia adultos e que também vivia com DM1, também era um atleta e também era bastante ativo. Essa mudança ensinou muito a Will sobre a ciência relacionada com o DM1 e ajudou-o a compreendê-lo e melhorar sua rotina de cuidados.

Will optou por fazer uma faculdade na Flórida, a cerca de 16 horas da nossa casa. Muita gente nos perguntou por que ele foi para tão longe, sendo que vivia com DM1. Novamente, queríamos e incentivávamos Will a viver a vida que ele desejasse. Ele lidava bem com a condição e essa era a faculdade dos sonhos dele. Ele fazia parte da equipe de lacrosse, adorava o curso que fazia e estava rodeado de amigos incríveis que o apoiavam muito.

Ele prosperou e se tornou um amigo maravilhoso para muitas pessoas. Era ótimo no lacrosse, tinha até mesmo um pequeno fã clube entre os alunos das escolas locais. Em seu último ano, ele virou o capitão da equipe. Ele iria se formar com honras. Seus trabalhos artísticos eram apresentados em exposições locais. Nunca havíamos visto Will tão feliz.

Nas férias de fim de ano, Will passou mais tempo com a família do que o normal. Em vez de ir para a casa dos amigos, ele os trouxe para a nossa. Ele passou muito tempo com seu irmão mais novo, sua irmã mais velha e seu pai, que estava se recuperando de uma cirurgia no joelho. Eu tive a sorte de passar uma semana com ele e seu irmão mais novo no sul da Califórnia fazendo trilhas, andando de bicicleta e passeando.

Mas ele estava animado para voltar para a faculdade em janeiro. Estava com saudades da namorada, dos amigos e dos outros membros da equipe. Estava muito empolgado com o começo da sua última temporada de lacrosse na faculdade. Estava se preparando para a vida depois da formatura.

No fim de janeiro, os pais de alguns dos seus companheiros de equipe me contaram que um surto de gripe havia começado no campus. Eu falei para Will não se aproximar dos alunos infectados, dormir bastante e tomar vitaminas, medidas para tentar prevenir a gripe. Na sexta-feira, ele me enviou uma mensagem dizendo para que eu não me preocupasse, porque seus amigos não estavam com gripe, só resfriados. Ele passaria o fim de semana ocupado, treinando, trabalhando e se preparando para viajar na quarta-feira para os primeiros jogos da temporada, que aconteceriam na Carolina do Norte e na Geórgia. Ele não ia sair na noite do Super Bowl porque ficaria arrumando as coisas.

Na segunda de manhã, uma amiga de Baltimore, cujo filho dividia o quarto com Will, me ligou. Ela me avisou que ele havia desmaiado e estava a caminho do hospital. Meu marido e eu compramos passagens aéreas, jogamos algumas coisas em uma mala e fomos para o aeroporto. No caminho, ligamos para seus amigos, seu técnico e para o hospital, mas sem conseguir respostas. Não havia registro da entrada dele no hospital, o que significava que ele ainda estava sendo atendido. Nós sabíamos.

Na espera do aeroporto, recebemos uma ligação do médico. Ele tinha morrido. Sua glicemia estava perto de 700. O coração dele parou, eles conseguiram uma leve pulsação uma vez, mas ela não se manteve.

Depois de falarmos com seus colegas de quarto, seus amigos, sua namorada e o técnico da equipe, descobrimos o seguinte: no sábado, Will estava doente, mas foi treinar. Ele estava com sintomas de um resfriado, febre e estava tomando Motrin. Depois do treino, ele ficou em casa descansando. No domingo, ele estava se sentindo melhor, então foi à reunião de um grupo do qual participava e, de noite, ficou em casa. Ele falou para o seu técnico e para a namorada que estava muito melhor. Ele queria estar na melhor forma possível para a primeira partida, que aconteceria em apenas três dias. Ele foi dormir, acordou no dia seguinte e desmaiou. A gripe bagunçou os seus fluidos, a sua glicemia e, eventualmente, o seu coração. Causa oficial da morte: cetoacidose diabética.

Depois da morte de Will, eu venho trabalhando para conscientizar as pessoas sobre o DM1 e arrecadar dinheiro para ajudar a busca por uma cura e pelo fim dessa condição. Um desafio de quebra de ovos levantou bem mais de 100 mil dólares. A ação baseou-se em uma ideia de Will e em um vídeo que ele havia gravado em 2014.

Agora, eu gostaria que todos vocês que estão lendo isto ajudassem a espalhar a mensagem e nunca esquecessem Will e a sua história. Esta é a lição que ensino a todos que vivem com DM1 e a seus pais e cuidadores:

Tome a vacina da gripe.
Independentemente da circunstância e da gravidade, se apresentar sintomas de gripe ou vírus estomacais, você precisa ir a um hospital que tenha endocrinologistas em sua equipe. Eu não sou a pessoa certa para explicar a ligação entre a gripe e a cetoacidose diabética, só posso implorar que você vá para o hospital quando estiver doente.
Olhar para trás durante o luto é um exercício horrível e doloroso. No entanto, eu sei que eu precisava ter lembrado a Will que, se ele tivesse ficado gripado, precisava pedir ao seu técnico para levá-lo diretamente ao hospital. Isso foi minha culpa e eu vou me arrepender para sempre de não ter feito isso. Seus ótimos resultados nos exames de hemoglobina glicada, sua maturidade e a forma independente em que ele mantinha sua rotina de cuidados com o diabetes fizeram com que baixássemos a guarda. Durante todo o período em que ele frequentou o ensino médio, eu me mantive atenta, e continuei monitorando-o de uma forma não tão próxima durante a faculdade. Tínhamos médicos na região e o departamento médico esportivo da faculdade, e todos sempre levavam os alimentos de que ele precisava. Eles tinham uma caneta de glucagon pronta. Tínhamos contratado um serviço de limpeza para que sua casa estivesse limpa e higienizada. A faculdade estava ciente da sua condição, os amigos que dividiam a casa também, e eles sabiam onde encontrar o glucagon e como utilizá-lo. Nos sete anos e meio que haviam passado desde o diagnóstico, ele não havia ficado doente nenhuma vez.

 

Mas precisamos ficar sempre vigilantes. As regras básicas do cuidado com o diabetes precisam ser seguidas o tempo todo: não saia de casa sem os itens necessários, meça a glicemia com frequência, sempre leve um alimento ou bebida para o caso de hipoglicemia, tome a vacina da gripe, tenha o material necessário para testar cetonas e use-o, vá para o hospital se estiver com gripe. Eu não lembrei Will dessa parte, e isso vai ficar comigo para sempre. Por favor, não deixe a minha história se repetir.

O mundo perdeu uma estrela.

Não podemos perder mais ninguém.

A gripe e a cetoacidose diabética são uma combinação mortal. Vá para o hospital imediatamente.

 

 

 

WRITTEN BY Lyndall Hauver, POSTED 01/06/20, UPDATED 03/16/21

Lyndall Hauver é mãe e porta-voz do diabetes tipo 1. Ela ajuda a aumentar a conscientização sobre os perigos da cetoacidose diabética e a financiar a cura do DM1.