Jornada da pessoa com diabetes e Glic


 

Claudia tem 33 anos de idade, empreendedora e psicanalista. Hoje atua como CEO da Glic, primeiro software brasileiro a auxiliar no dia a dia do tratamento do diabetes, conectando quem tem diabetes com sua equipe de saúde e gestores populacionais.  Tivemos a oportunidade de conversar com ela.

Qual é sua formação?

Graduação em Marketing pela USP e pós em psicanálise.

Há quanto tempo você tem diabetes?

Há 23 anos.

Como foi seu caminho até o Glic?

Eu tenho diabetes desde os 10 anos e desde muito cedo eu entendi que muitas pessoas com diabetes não conseguiam realizar o próprio tratamento de maneira adequada e com isso vinham a ter uma morte prematura. Isso aconteceu com uma vizinha da minha avó que tinha 13 anos na época. 

Aquilo me tocou profundamente, aos 18 eu comecei a realizar trabalho voluntário, fiz parte do primeiro Treinamento para Formação de Jovens Líderes da ADJ Diabetes Brasil, realizado pelo Mark Barone e Juliana Baptista, que foi basicamente onde eu aprendi a direcionar o meu desejo de fazer a diferença para uma atuação junto à comunidade. 

Dali fui selecionada para o Young Leaders in Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF), sendo a primeira representante da região América Central e Sul deste programa. 

Realizar projetos de educação em diabetes foi algo que foi emergindo naturalmente na minha vida e aos 25 anos, após empreender um espaço de coworking na minha cidade, com o intuito de abrir um espaço de trocas, foi ali que conheci o projeto do Gliconline. Em contato com a equipe, em especial o Giba Gonçalves, investidor anjo da Glic, eu e o Gabriel Schön começamos a trabalhar no marketing da startup, melhorando a comunicação da plataforma e aos poucos fomos entendendo a nossa atuação até chegarmos hoje a sermos a maior startup de diabetes do Brasi. 

Sobre o Glic. Como ele surgiu?

O Glic nasceu em 2015, resultado de um projeto que se iniciou em 2004 no Hospital das Clínicas de São Paula com a Dra. Karla Melo, que vive com diabetes tipo 1 desde os 7 anos. Naquela época a Karla realizava ambulatório após o almoço, media a glicemia dos pacientes na consulta e os valores estavam acima do esperado. Ela perguntava ao paciente o que haviam comido e que conta tinham feito para chegar no cálculo da dose. 

Karla percebia quase sempre que não batia o quanto de carboidrato o paciente tinha ingerido na refeição com o que estava sendo aplicado de insulina. Frustrada com essa situação, ela construiu um sistema junto com dois outros sócios, anterior aos smartphones. 

Desde este início, o sistema foi ganhando diferentes versões até chegar a ser um aplicativo. Em 2015 nascia o Glic, que colocou o paciente no centro do tratamento, criamos uma estratégia de comunicação focada em educação com comunicação não violenta e iniciamos projetos que viabilizem a sustentabilidade da plataforma. Hoje somos mais de 150 mil usuários com diabetes.

Qual é a sua missão?

Desenvolver e disponibilizar ferramentas tecnológicas para facilitar o seguimento do tratamento de diabetes e permitir que sobre mais tempo e saúde para cada um realizar seus desejos como pessoa, tornando o diabetes um coadjuvante.

Quem está por trás do Glic?

O Glic tem um time de 16 pessoas, com profissionais experientes na área de tecnologia da informação, medicina, enfermagem, educação, negócios e marketing.

Qual é a importância do Glic pro mercado brasileiro?

O Glic é pioneiro em tecnologia para o seguimento do tratamento do diabetes no Brasil. A média da Hemoglobina Glica Estimada da nossa base é de 7.4% enquanto a média brasileira é superior a 9%. Hoje somos a maior base de usuários e estamos expandindo para outros países da América do Sul.

Qual é o diferencial do Glic pros demais apps disponíveis no mercado?

O Glic é o único que conecta, de forma gratuita, quem tem diabetes com a sua equipe de saúde em tempo real, cálculo de dose para bolus de gordura, auto titulação de basal e chat com time de atendimento (com educação em diabetes) direto pela plataforma.

Como você encara a jornada da pessoa com diabetes e como o Glic pode ajudar?

A jornada do diabetes está conectada com acesso à insumos e educação. Desde o diagnóstico do diabetes vemos que há dois tipos de trilhas, aquelas em que a pessoa recebe educação desde o início e consegue ter um diagnóstico precoce (antes que ele apareça em uma complicação), ou nem chegam a receber o diagnóstico por falta de educação e não se tem nem chance de sobreviver. 

E os demais milestones dessa jornada são marcados por essas diferenças, daqueles que têm acesso a insumos e educação para poder seguir caminhando essa jornada e aqueles que não. O Glic entra como uma ferramenta gratuita que fomenta a discussão entre os diversos players do ecossistema sobre o tratamento do diabetes a partir do conhecimento gerado baseado em dados para democratizar o acesso à saúde.

Quais são os planos para o futuro?

Melhorar e facilitar o input de dados, aumentar o número de devices conectados e aprimorar a comunicação entre usuários com perfis diferentes no sistema.

Como você enxerga que o Glic pode contribuir com as novas tecnologias em diabetes que vêm sendo lançadas nos últimos anos?

O Glic se conecta ao principal medidor de glicose do mercado que possui conexão via bluetooth e dessa forma estudamos mais conexões com o ecossistema do tratamento. A nossa visão sobre tecnologia é de que tecnologia por si só não é progresso. Nós queremos democratizar o acesso ao tratamento e o suporte que encontramos ser possível fazer isso foi a tecnologia, para que seja possível alcançar pessoas que estão em regiões mais afastadas, conectar e comunicar para poder educar. E a tecnologia estar a serviço da inclusão.

 

WRITTEN BY Bruno Helman, POSTED 09/02/21, UPDATED 01/24/22

Bruno foi diagnosticado aos 18 anos, no seu último ano do Ensino Médio. Logo percebeu que tinha duas escolhas: controlar o diabetes ou deixar ele controlá-lo. Optou pelo primeiro caminho e começou a correr, completando sua primeira maratona motivado pelo seu pai. No entanto, nunca havia buscado se relacionar com outras pessoas que também tinham a condição até que, ao participar de uma expedição para a Islândia, descobriu o valor da troca entre pares (peer support) e da construção de uma comunidade. Depois de arrecadar recursos para a cura da condição, decidiu que deveria ajudar a sua própria comunidade a ser mais ativa e saudável. Fundou, então, o Correndo pelo Diabetes. Hoje, Bruno dedica-se a levantar a bandeira do diabetes e de outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), sempre enfatizando a importância do envolvimento significativo daqueles que possuem a condição.